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Setembro é o mês dos lúpulos


Finalizo setembro, o mês mais importante para quem gosta de lúpulos, com minhas duas experiências na região mais lupulada da Bélgica: Poperinge.


Nesta acolhedora cidade pude presenciar a colheita de lúpulos nas fazendas (mistas) dos dois maiores produtores que, após um longo ano de espera, podem finalmente colher seus lúpulos-fêmeas com seus quase sete metros de altura! Existe uma razão pela qual os cervejeiros se interessam apenas pelo lúpulo fêmea. Preferências à parte, o lúpulo (Humulus lupulus) é uma planta dióica, o que significa que apresentam plantas com os sexos separados. Contrariamente à planta masculina, somente no cone da planta feminina há abundância das lupulinas, as glândulas responsáveis pela formação dos ácidos-alfa e óleos essenciais - que vão conferir amargor e características distintas de sabor/aroma nas cervejas (que vão depender da variedade de lúpulo utilizada).

Entrelaçamento de três pés de lúpulos que podem chegar a 7m de altura cada. Foto: Gabriela Montandon
Imagem: Gabriela Montandon

Lupulinas (pontos amarelos entre as brácteas do lúpulo): glândulas responsáveis pela formação de alfa-ácidos e óleos essenciais no lúpulo. Foto: Gabriela Montandon















Na Bélgica e na maioria dos países produtores de lúpulos (com exceção da Inglaterra) não é permitida a presença de lúpulos machos na redondeza, uma vez que os mesmos são hábeis de fecundar as fêmeas mesmo às longas distâncias. Quando o pólen do macho fecunda a planta fêmea há a formação da semente e, como resultado, o lúpulo passa a adquirir uma carga extra de lipídeos - capazes de emulsificar e degradar a espuma da cerveja. Se você está pensando que esse é um dos motivos do pequeno colarinho das ales inglesas você está certo. Na Inglaterra não se multa quando há um lúpulo-macho na redondeza - enquanto outros países como a Bélgica, deverão estar no mínimo 6km de uma planta fêmea.


Bráctea dos lúpulos (esquerda) e semente (direita). Imagem cedida por Denis de Keukeleire.

O que antigamente era tudo à mão, hoje toda a colheita de lúpulos é realizada processos mecânicos. Um trator especializado realiza a colheita dos pés e, em seguida, há o processo de separação e triagem dos cones, terminando com a secagem dos mesmos com ar quente (a 60°C entre 6 a 8h) para evitar a deterioração.



Algumas variedades de lúpulos que apresentam características morfológicas que as distinguem nitidamente. Foto: Gabriela Montandon

Além de seis cervejas single-hop da Proef Brouwerij, feitas com lúpulos destas fazendas, pude degustar também o Hommeldruppel, um destilado de lúpulos Challenger com 35%ABV.


O ápice foi poder ver de perto uma plantação orgânica de lúpulos e uma das mais novas micro-cervejarias da região, a De Plukker. Além de degustar cervejas com as sete variedades de "bio-hops" (lúpulos orgânicos, sem inseticidas), junto com as joaninhas me senti verde naquele local tão politicamente correto, cujos lúpulos saem dali e vão diretamente só para a Inglaterra.






Joaninhas andando livremente nos lúpulos orgânicos. Foto: Gabriela Montandon.

Para nós a coisa é mais amarga que para os belgas. Por vivermos em um país tropical, não temos (ainda?) o privilégio de cultivar e usarmos lúpulos assim, tão frescos. Diante desta realidade, fui curar a amargura com a doçura do Sabayon, uma sobremesa belga onde se mistura cervejas (normalmente fruit lambics mas, como eu estava na região dos lúpulos, a sobremesa foi feita com a Hommelbier), açúcar e ovos. Saúde!

Sabayon, sobremesa belga à base de cerveja, ovos e açúcar.


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